Da cana-de-açúcar para a pele: a lenhina como ingrediente cosmético

Terça-feira, Outubro 17, 2023 - 10:35
Esquema-noticia-Lenhina

A proteção solar é um dos passos mais importantes para os cuidados com a pele, e não apenas durante a época balnear. Atualmente muito produtos cosméticos, como cremes hidratantes e bases, contêm filtros contra os raios ultravioleta (UV) para garantir essa proteção. No entanto, apesar dos efeitos benéficos, têm surgido questões crescentes no que respeita à real segurança de alguns filtros UV, quer para a saúde quer para o meio ambiente. Por outro lado há cada vez mais conhecimento sobre o resultado da exposição aos UV: sabe-se por exemplo que se formam moléculas oxidantes (à base de oxigénio) responsáveis pelo envelhecimento (e até cancro) da pele. Não é por isso de admirar que a indústria cosmética procure com o máximo de atenção quaisquer ingredientes que, simultaneamente, consigam neutralizar esses oxidantes, proteger contra os UV e, claro, sejam totalmente seguros.

A lenhina é uma forte candidata. Esta molécula pode ter um nome difícil de pronunciar mas, quem já viu árvores, já viu lenhina. Ela é uma componente abundante de praticamente todos os tecidos vegetais e tem é fundamental na condução de água e nutrientes, defesa contra pragas e doenças e contribui para a forma e estrutura das plantas.

Recentemente foi comprovado cientificamente pelo CBQF – Centro de Investigação da Escola Superior de Biotecnologia da Católica, que a lenhina extraída do bagaço da cana-de-açúcar é um excelente ingrediente multifuncional: não só é antioxidante como protege contra os UV e ainda atua como pigmento natural. Além disso, como o bagaço é um resíduo da produção de açúcar, ao aproveitar a lenhina está a valorizar-se um material natural que de outra forma seria descartado. O estudo envolveu um conjunto de testes para avaliar a segurança da aplicação na pele e a eficácia como ingrediente cosmético. A segurança foi verificada por testes de citotoxicidade, mutagenicidade, sensibilidade e irritação cutânea. Em relação aos UV os resultados foram surpreendentes, com a formulação de creme hidratante (contendo 5% de lenhina) a apresentar valores elevados de proteção (em torno de 10 na escala FPS da proteção solar).

Além disso a formulação apresentou proteção UV de amplo espetro, demonstrando a capacidade de absorver raios UV do tipo A e B. Os resultados revelaram ainda que a lenhina continua ativa como antioxidante após incorporação na formulação. Com base neste estudo científico é possível concluir que a lenhina proveniente do resíduo de bagaço da cana-de-açúcar oferece benefícios inovadores e sustentáveis aos produtos cosméticos, atuando como um ingrediente multifuncional natural, seguro e ecologicamente responsável.

O estudo pode ser consultado nesta página: https://doi.org/10.1016/j.ijbiomac.2023.123592