O Centro de Biotecnologia e Química Fina acolheu o segundo Workshop de Integração Transfronteiriça do projeto CROSSPATHS, na Universidade Católica Portuguesa, no Porto. Este evento restrito teve como foco o reforço das ligações entre instituições de investigação e o ecossistema de inovação português, contando com a participação de representantes da indústria, agências de inovação e parceiros do consórcio CROSSPATHS.
Um dos principais momentos do dia foi a mesa-redonda, moderada pela diretora do CBQF, Manuela Pintado. A sessão proporcionou um diálogo franco e produtivo entre empresas e representantes institucionais sobre os desafios práticos da colaboração entre investigação e indústria.
CEOs de empresas como TecmaFoods, Naturtech, Simplyeast e AgroGrIN Tech partilharam as suas perspetivas, salientando obstáculos como os prazos reduzidos, a rapidez dos processos industriais e o desfasamento entre os resultados da investigação e as necessidades comerciais. Os participantes sublinharam que, embora existam financiamentos, a longa duração dos projetos e a lentidão nas respostas dificultam muitas vezes a colocação das inovações no mercado em tempo útil.
Vários representantes empresariais destacaram a importância de um acesso mais rápido ao conhecimento aplicado, uma maior coordenação entre os parceiros e um apoio mais prático durante a validação industrial e a fase de escalabilidade. Outros referiram a escassez de profissionais qualificados em áreas relacionadas com a transferência de tecnologia e aplicação industrial.
Débora Campos, fundadora e CEO da AgroGrIN Tech, ao ser questionada sobre a fase de escalabilidade industrial de uma startup de biotecnologia, comentou: “Um dos nossos maiores desafios foi encontrar parceiros industriais com a experiência necessária para negociar e escalar a nossa inovação – há uma lacuna real no apoio às startups de base biotecnológica durante a validação industrial.”
Embora os projetos de I&D possam não ter a agilidade necessária para responder às necessidades imediatas do mercado, a colaboração entre empresas e instituições de investigação continua a ser essencial para o desenvolvimento de soluções inovadoras. Estas parcerias permitem um acesso mais precoce a conhecimento especializado e um suporte científico sólido, garantindo estabilidade a longo prazo, uma vez estabelecidas.
Tiago Duarte, fundador da Simplyeast, quando questionado sobre o sucesso de projetos de I&D envolvendo unidades de investigação e empresas, referiu: “Para que as colaborações em I&D tenham um verdadeiro impacto, todos os parceiros têm de estar igualmente comprometidos e envolvidos. Com frequência, as expetativas desalinhadas entre empresas e instituições de investigação, nomeadamente em termos de prazos, limitações operacionais e requisitos CAPEX/OPEX, comprometem o sucesso e o verdadeiro potencial destes projetos.”
Representantes institucionais da ANI, CCDR-N, PortugalFoods e AEP também contribuíram para o debate, salientando desafios estruturais existentes em Portugal, como a fragmentação do ecossistema de inovação provocada por regulamentações intensivas, bem como desafios culturais na Europa e noutros países. Destacaram ainda a necessidade de uma maior coordenação entre as entidades existentes, promovendo a integração de atividades, evitando a criação de novas camadas e reduzindo a burocracia. A promoção de plataformas de colaboração transfronteiriça, como o projeto CROSSPATHS, foi apontada como essencial para uma melhor integração das capacidades nacionais e europeias.
Uma proposta concreta surgiu da discussão: a criação de um serviço de "Concierge" para mapear as capacidades nacionais de I&D e ligar as empresas aos parceiros mais adequados. Esta estrutura permitiria reduzir atrasos, evitar duplicações de esforços e acelerar o percurso da inovação para as empresas.
Este workshop, que decorreu 13 de junho, integrou-se na missão do projeto CROSSPATHS de promover a colaboração entre instituições de investigação e ecossistemas de inovação na Europa, especialmente nos países em fase de convergência. A partilha aberta de experiências e necessidades reforçou a urgência de abordagens mais ágeis, conectadas e estratégicas à investigação e inovação.