A produtividade agrícola da região do Mediterrâneo está seriamente ameaçada pelas alterações climáticas, degradação do solo e esgotamento dos recursos hídricos. Este cenário é agravado por práticas de gestão agrícola inadequadas, incluindo o uso excessivo de fertilizantes químicos e pesticidas, sobrepastoreio e o excesso de produção em regime de monocultura. É no âmbito destes desafios da agricultura intensiva que surge o ReCROP, coordenado pelo Centro de Biotecnologia e Química Fina (CBQF) da Escola Superior de Biotecnologia (ESB) da Católica no Porto e cofinanciado pelo PRIMA - Parceria para a Investigação e Inovação na Região Mediterrânica (Horizonte 2020). O projeto nasce da interseção da agricultura com a biotecnologia, contando com a experiência de longos anos da ESB na busca de soluções biotecnológicas baseadas na natureza e na biodiversidade escondida para a regeneração de solos.
Abordando questões técnicas e económicas, o projeto servirá de plataforma de demonstração permitindo chegar aos agricultores e a um público mais vasto, a fim de promover a adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis que permitirão superar algumas das ameaças mais graves para os sistemas agrícolas mediterrânicos.
Sofia Pereira, investigadora e coordenadora científica do projeto, afirma que “o ReCROP tem como objetivo promover a sustentabilidade e resiliência dos sistemas de produção agrícola na região do Mediterrâneo através do uso combinado de ferramentas biotecnológicas, como bioinoculantes (fungos micorrízicos e bactérias promotoras de crescimento de plantas) e práticas agronómicas sustentáveis, que incluem esquemas de co-cultivo e de rotação de culturas, aplicação de corretivos, bem como o uso de variedades locais adaptadas e/ou tolerantes.”
O projeto conta com a coordenação das investigadoras Sofia Pereira e Helena Moreira e de Paula Castro, diretora e docente da ESB, e com a colaboração de Eduardo Cardoso, também docente, e do investigador João Cortez.


Enfrentar as alterações climáticas, melhorar a biodiversidade
O ReCROP apresenta uma solução integrada que vai permitir aos sistemas agrícolas enfrentarem as alterações climáticas através da melhoria da biodiversidade e fertilidade do solo e da conservação da água. Irá também contribuir para o aumento do rendimento das culturas ao mesmo tempo que se providenciam serviços para o ecossistema como o aumento do sequestro de carbono, da matéria orgânica e da reciclagem de nutrientes.
Deste modo, pretende-se dar resposta a uma agricultura intensiva que tem um grande impacto na perda de matéria orgânica e biodiversidade do solo, enquanto favorece a sua erosão, compactação e contaminação.
O projeto abrange a Área Geográfica Mediterrânica - Marrocos, Egito, Tunísia, Itália, França, Portugal e Espanha – e incorpora culturas de elevada importância económica tais como a vinha, os cereais e as plantas aromáticas e medicinais. As práticas agrícolas serão testadas e monitorizadas em diferentes condições edafoclimáticas (7 países) – solos e clima -, incluindo parcelas experimentais numa área climática com influência atlântica (Norte de Portugal e Noroeste de Espanha) e outras em regiões mais secas e quentes no Norte de África.
