Nascido no âmbito do doutoramento de Débora Campos, atualmente CEO da AgroGrIN Tech (AGT), o método sustentável de extração de bromelaína desenvolvido no Centro de Biotecnologia e Química Fina foi agora licenciado em exclusivo à start-up. O acordo reforça a ligação estratégica entre academia e indústria, permitindo à empresa avançar para a fase de escalabilidade industrial da enzima.
Em que consiste o método patenteado e o que o torna inovador?
O método patenteado consiste num processo verde e altamente eficiente para a precipitação e recuperação de enzimas, em específico, bromelaína a partir de subprodutos de ananás. É uma metodologia inovadora porque utiliza condições suaves, sustentáveis e escaláveis, permitindo obter uma bromelaína de elevada pureza sem recurso a solventes agressivos. Esta abordagem representa uma alternativa mais segura, económica e ambientalmente responsável face às técnicas convencionais, abrindo caminho para a separação e extração de proteínas de forma sustentável e aplicável à produção industrial de ingredientes naturais e clean label.
Embora exista bromelaína disponível no mercado para aplicações alimentares e funcionais, ainda não há produtos claramente posicionados como “bromelaína clean label”. A maioria surge apenas como ingrediente natural ou enzima de origem vegetal, sem evidenciar o processo produtivo ou compromissos de sustentabilidade. Este vazio reforça a natureza diferenciadora da tecnologia desenvolvida na Universidade Católica e aplicada pela AgroGrIN Tech, que introduz um processo verdadeiramente verde e alinhado com as exigências atuais de transparência, naturalidade e redução de aditivos.
Ao disponibilizar uma bromelaína genuinamente ajustada aos princípios clean label — não apenas pela sua origem vegetal, mas pela forma como é produzida — a AGT posiciona-se a par de uma tendência global ainda pouco explorada no segmento das enzimas proteolíticas. Este movimento acompanha o que os principais atores mundiais, como Novozymes e DSM-Firmenich, entre outros, têm demonstrado nos últimos anos: as enzimas são hoje uma via essencial para soluções clean label, capazes de melhorar textura em alternativas vegetais e substituir emulsificantes, estabilizantes e outros aditivos artificiais. Esta evolução confirma o potencial desta tecnologia que sempre esteve na vanguarda, antecipando as tendências internacionais e alinhando-se, desde cedo, com a direção estratégica dos líderes do setor dos ingredientes naturais e funcionais.
Como surgiu a colaboração com a AgroGrIN Tech?
A colaboração nasceu no âmbito do meu doutoramento, durante o qual foi desenvolvido o método patenteado em coautoria com a Professora Manuela Pintado. A visão de transformar esta tecnologia em impacto real levou à criação da AgroGrIN Tech em 2017, com o objetivo claro de escalar e comercializar ingredientes naturais produzidos através de processos biotecnológicos sustentáveis. Desde 2020, o CBQF e a AGT têm colaborado em diversos projetos de I&D que foram decisivos para o crescimento da empresa, consolidando o CBQF como um parceiro estratégico desde o primeiro dia. Este percurso demonstra como a ligação entre centros de investigação e empresas é essencial para gerar inovação, competitividade e valor económico — não apenas para as organizações envolvidas, mas também para o posicionamento da região e do país no panorama internacional. Sem uma visão partilhada, espírito colaborativo e alinhamento estratégico entre ciência e indústria, avanços como este simplesmente não aconteceriam.
Que impacto consideram que este licenciamento poderá ter?
Este licenciamento exclusivo representa um marco estratégico para ambas as instituições, traduzindo a concretização de valor económico a partir de conhecimento científico. Para a UCP, o acordo reforça o compromisso com a transferência de tecnologia, demonstrando que a investigação produzida no ecossistema académico pode transformar-se em soluções de mercado com impacto real. Ao licenciar uma patente para uma start-up, a Universidade valida a sua capacidade de gerar know-how competitivo, cria novas fontes de sustentabilidade financeira para a investigação e consolida a sua posição como referência nacional na valorização da ciência.
Para a AgroGrIN Tech, o licenciamento oferece a segurança jurídica e tecnológica necessária para avançar para a fase de otimização produtiva, escalando a tecnologia em ambiente industrial e aproximando a bromelaína da sua entrada no mercado. Nove anos após a submissão da patente, este passo permite transformar resultados científicos em produtos comerciais, gerando valor económico, criando emprego qualificado e contribuindo ativamente para o crescimento do ecossistema de biotecnologia em Portugal. O acordo demonstra como a colaboração entre ciência e indústria acelera a inovação e torna a transferência de conhecimento um pilar do desenvolvimento sustentável do país.
Atualmente, a AgroGrIN Tech está a escalar esta tecnologia através de uma unidade piloto financiada pelo PRR, no âmbito do Pacto da Bioeconomia Azul, no Vertical Feed, que integra não só a start-up e a Universidade Católica, bem como outros parceiros nacionais estratégicos, na investigação de topo, na indústria, fomentando a colaboração ativa, e a criação de soluções biotecnológicas de elevado impacto. Este investimento estratégico está a acelerar a transição da investigação para a produção em ambiente industrial, permitindo validar e otimizar o processo inovador de recuperação de bromelaína e aproximá-lo da sua entrada no mercado. Para a AgroGrIN Tech, esta unidade piloto representa um passo decisivo para transformar ciência em produto, reforçar a competitividade da empresa e consolidar Portugal como referência no desenvolvimento de ingredientes naturais, funcionais e sustentáveis.