Por: Raquel Madureira
A pele é o maior órgão do corpo humano, sendo composta por camadas como a epiderme, derme e hipoderme. No aspeto funcional e de proteção da saúde do organismo humano a pele ajuda na regulação da temperatura corporal, mantém a homeostase eletrolítica e bloqueia a entrada de agentes patogénicos e tóxicos no corpo. Para exercer estas funções a pele tem como inquilina e aliada uma vasta comunidade microbiana – a microbiota da pele, composta por bactérias, fungos e vírus. A microbiota está naturalmente em equilíbrio com o seu hospedeiro, sendo benéfica para a saúde uma vez que impede a colonização por microrganismos patogénicos e promove o bom funcionamento imunitário. Quando corre um desequilíbrio podem desenvolver-se doenças da pele como acne, psoríase ou dermatite atópica, entre outras.
Um dos fatores de risco é o uso de produtos cosméticos. Estes produtos têm na sua composição ingredientes como conservantes e emulsificantes que, mesmo após a sua remoção, deixam resíduos que permanecem à superfície da pele durante longos períodos. Não é por isso de admirar que a indústria cosmética tenha vindo a focar-se no desenvolvimento de produtos que não impactem negativamente a microbiota da pele e o seu equilíbrio.
Alguns destes novos ingredientes são provenientes de fontes naturais, outros são prebióticos que atuam como substrato para microrganismos benéficos, outros são probióticos, consistindo de microrganismos vivos benéficos para o hospedeiro, e outros ainda pós-bióticos, ou seja, são substâncias benéficas produzidas por microrganismos (ou componentes destes).
Para entender com precisão o efeito que os ingredientes cosméticos têm na microbiota da pele é necessário desenvolver metodologias que permitam essa avaliação. Várias metodologias têm sido reportadas, como modelos de cultura microbiana e modelos celulares 3D. As técnicas de biologia molecular, por sua vez, permitem caracterizar a diversidade biológica presente.
No entanto não existe uma técnica estabelecida e consistente que possa ser usada para acompanhar in vitro o desenvolvimento dos produtos cosméticos antes da sua validação in vivo (em pessoas). Esse é um dos desafios atuais nesta área e é também um dos objetivos do doutoramento da Dra. Maria João Carvalho, do grupo de investigação da Doutora Raquel Madureira, que está a desenvolver e estandardizar modelos in vitro que mimetizam o ambiente da microbiota da pele onde se utilizam amostras biológicas de voluntários para testar diferentes ingredientes de produtos cosméticos.
Este trabalho foi sistematizado num artigo científico publicado em 2022 na revista Microbial Ecology.