O Centro de Biotecnologia e Química Fina (CBQF) da Universidade Católica Portuguesa, em colaboração com o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (I3S), está a trabalhar no desenvolvimento nanotecnológico de partículas inovadoras que atuam de forma localizada no tratamento de inflamações crônicas do cólon, isto é o projeto gBIOT.
Para compreendermos do que estamos a falar quando nos referimos à nanotecnologia, precisamos primeiro de falar um pouco sobre o tamanho. Ezequiel Coscueta, investigador do CBQF e líder do gBIOT, explica que as convenções variam entre os cientistas. “Alguns consideram que acima dos 100 nanómetros (nm) lidamos com micropartículas, enquanto outros defendem que até aos 300 nm ainda se trata de nanopartículas.” Esta confusão pode ser problemática, dado que, num milímetro, cabem um milhão de nanómetros. No entanto, o foco do gBiot é claro: desenvolver microrrobôs (considerando micro por acima dos 100 nm) que encontrem o melhor caminho para eliminar inflamações do intestino.
As consequências de inflamações prolongadas, como colites e doença de Crohn, podem ser graves, com potenciais desfechos que incluem o cancro colorretal, uma das formas de cancro mais prevalentes a nível mundial. Para 2026, os cientistas da UCP e do I3S esperam ter um protótipo testado em modelos de células humanas e em ratos, com a intenção de registar uma patente para esta solução inovadora.
Os microrrobôs do gBIOT são produzidos por camadas que contêm diferentes funções, entre elas transportar anti-inflamatórios, alguns de uso farmacêutico tradicional, mas também compostos naturais extraídos de plantas como o agrião. Além dos anti-inflamatórios, os microrrobôs utilizam enzimas que interagem com compostos do microambiente inflamado, como, por exemplo, as Espécies Reativas do Oxigénio (ROS). Estas substâncias, que o organismo produz como defesa, podem ser nocivas quando geradas em excesso, especialmente em contextos de inflamação crónica. Os investigadores garantem que os microrrobôs poderão usar as ROS como “combustível” para se movimentarem e libertarem os anti-inflamatórios de maneira mais eficiente nas zonas inflamadas.
Este projeto representa um avanço significativo na biotecnologia aplicada ao tratamento de doenças inflamatórias intestinais, com o potencial de melhorar a qualidade de vida de muitos pacientes. O CBQF continua comprometido em desenvolver soluções inovadoras que respondam às necessidades de saúde da sociedade.