Sabia que os ramos e folhas de carvalho têm um potencial bioativo muito amplo com aplicações benéficas para a saúde e para a melhoria da segurança e estabilidade alimentar? A descoberta foi feita por investigadores da Universidade Católica Portuguesa, em conjunto com investigadores da Universidade de Córdoba, que registaram recentemente uma patente sobre o processo sustentável e ecologicamente correto para a obtenção de um extrato vegetal, a partir da folha de carvalho, rico em compostos fenólicos.
A sociedade enfrenta grandes desafios e dois deles são a produção de alimentos seguros, naturais e funcionais, e a gestão, aproveitamento e valorização eficientes do grande volume de resíduos que dá origem à atividade agroalimentar. Nesse sentido, o montinho, ecossistema silvipastoril da floresta mediterrânea que integra atividades florestais, agrícolas e pecuárias, constitui uma fonte de biomassa vegetal com alto potencial bioativo, já que a poda produz anualmente um milhão de toneladas de ramos e folhas. Atualmente, o uso limitado desses subprodutos não é acompanhado de aplicações promissoras em setores tão importantes como o alimentar, farmacêutico e nutracêutico. Com efeito, a utilização e incorporação nestes setores como novas cadeias de valor na forma de novas matérias-primas ricas em compostos benéficos, promoveriam a riqueza socioeconómica das zonas rurais, ao mesmo tempo que seriam evitados os problemas associados à acumulação desses subprodutos.
Diante desse cenário, investigadores do grupo de pesquisa BIOPREN RNM-940 e HIBRO AGR-170 da Universidade de Córdoba patentearam um processo sustentável e ecologicamente correto para a obtenção de um extrato vegetal, a partir da folha de carvalho (Quercus ilex), rico em compostos fenólicos. Em conjunto com a participação de investigadores do Centro de Biotecnologia e Química Fina da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa no Porto, foram identificados e quantificados os compostos fenólicos e a actividade antioxidante do extracto e da folha de carvalho moída ao longo das diferentes fases da digestão do tracto gastrointestinal, postulando-se como "ingrediente funcional com efeitos benéficos para a saúde". Da mesma forma, pode constituir uma alternativa natural para controlar e/ou evitar a contaminação microbiana a fim de aumentar a vida útil dos alimentos.
Este novo extrato, cujos principais compostos são os ácidos fenólicos, flavonóides, flavonas, flavanonas, catequinas e estilbenos - conhecidos pela sua atividade antioxidante e antimicrobiana -, é obtido através de um processo rápido de extração auxiliado por microondas. A concentração de compostos fenólicos totais no extrato varia entre 35 e 330 mg/g de peso seco, valores elevados quando comparados a outros extratos atualmente comercializados, como extrato de folha de oliveira, semente e casca de uva e alecrim. O seu potencial de desenvolvimento, escala industrial e comercialização é considerado viável e sustentável dada a sua concentração competitiva em compostos bioativos, o uso da água como solvente e a extração por meio de tecnologia verde de baixo consumo.
O extrato e a folha, ricos em compostos bioativos, podem ser utilizados como novos ingredientes alimentares ou suplementos alimentares com propriedades nutracêuticas e funcionais, devido aos seus efeitos antioxidantes e prebióticos. Da mesma forma, podem ser usados como aditivos alimentares devido às suas propriedades antioxidantes e antimicrobianas contra bactérias de origem alimentar, como Escherichia coli, Listeria monocytogenes, Salmonella Typhimurium, Staphylococcus aureus e Yersinia enterocolitica. Além disso, os polifenóis presentes no extrato e na folha de carvalho podem ter outros efeitos benéficos à saúde, como o efeito anticâncer, anti-hipertensivo e hipocolesterolêmico, além de atuar na prevenção de doenças relacionadas ao estresse oxidativo, como o inflamatório distúrbios, diabetes, Alzheimer e doenças cardiovasculares.
Assim, a folha de carvalho, rica em flavonóides, tem um potencial bioativo muito amplo com aplicações benéficas para a saúde e para a melhoria da segurança e estabilidade alimentar. Desta forma, a sua valorização contribui substancialmente para o desenvolvimento de uma economia circular onde, através da utilização de metodologias sustentáveis e ecológicas, são obtidos e recuperados os constituintes bioativos presentes nos subprodutos agrícolas.
À esquerda, folha de carvalho picada. À direita, extrato de folha de carvalho obtido por extração assistida por micro-ondas.
Investigadores da Universidade de Córdoba (da esquerda para a direita): Mónica Sánchez Gutiérrez, Elena Carrasco Jiménez e Alejandro Rodríguez Pascual.
Investigadores da Universidade Católica Portuguesa: Ricardo Gómez García e María Manuela Esteves Pintado
