Áreas mineiras contaminadas: soluções no presente de problemas do passado... para que possa haver futuro!

Tuesday, February 1, 2022 - 12:27

Por: Sofia Almeida Pereira

Áreas mineiras contaminadas - dunas

A contaminação do solo por metais constitui uma ameaça permanente para os ecossistemas e saúde humana, sendo reconhecida como uma das maiores preocupações ecológicas em todo o mundo. O setor mineiro contribuiu para este conhecido problema ambiental porque da extração do minério resultam enormes quantidades de resíduos contaminados. Estes resíduos foram ao longo dos anos tipicamente depositados em escombreiras a céu aberto, muitas vezes sem qualquer tipo de tratamento ou barreiras de retenção, pelo que a disseminação para as áreas adjacentes é inevitável.

A remediação in situ através do estabelecimento de uma cobertura vegetal (fitoestabilização) é uma das opções que permite reduzir o risco de lixiviação e de dispersão eólica das partículas contaminadas. No entanto o crescimento e desenvolvimento das plantas é muitas vezes comprometido pelas condições físico-químicas inóspitas das escombreiras, desde elevadas concentrações de metais a pH muito ácido, passando por baixo teor em matéria orgânica e nutrientes, fraca estrutura do substrato e baixa capacidade de retenção de água.

O grupo de investigação da ESB liderado pela Prof. Paula Castro desenvolve há anos soluções baseadas na Natureza, nomeadamente para solos difíceis. A Doutora Sofia Pereira em particular focou-se na mina de Kettara, localizada a noroeste de Marraquexe (em Marrocos). Esta é uma mina abandonada e representa um risco real para a saúde das populações vizinhas uma vez que existem cerca de 3 milhões de toneladas de resíduos de cobre e pirrotite acumulados.

A investigação desenvolvida teve como principal objetivo avaliar o efeito da aplicação de corretivos orgânicos e/ou minerais na melhoria das propriedades físico-químicas, bioquímicas e biológicas desses resíduos. Eles foram misturados com um solo agrícola (1:1) e com diferentes combinações de corretivos orgânicos (composto verde) e minerais (cal e rocha fosfática). Após oito meses observou-se uma melhoria muito significativa das propriedades físico-químicas, com um aumento acentuado do pH, do teor em matéria orgânica e nutrientes e uma redução significativa da concentração biodisponível de metais como cobre e zinco.

A mudança também permitiu restaurar a atividade microbiana tendo-se verificado um aumento exponencial da abundância de diversos grupos microbianos (bactérias heterotróficas, fungos e actinomicetos). Em testes de germinação os resultados foram igualmente muito positivos.

Globalmente o êxito obtido abre caminho para a utilização de corretivos em estratégias de remediação in situ e na revegetação de áreas mineira altamente contaminadas, o que não resolve todos os problemas da mineração mas constitui certamente um passo na direção certa.

 

Este trabalho foi sistematizado num artigo científico publicado em 2021 no Journal of Soil and Sediments.